Gerson era um típico esportista mirim. Jogava basquete, futebol, handball, vôlei, peteca... Enfim, gostava de tudo que envolvia atividade física. É verdade que também brincava no fliperama. Mas quem resiste a esta maravilha inventada para distrair e estimular a mente do homem?
Mas, vamos ao que interessa. Chegam às férias de fim de ano e Gerson já lustrava suas chuteiras quando seus pais decidem tirar férias para colocar o casamento no lugar. É inevitável e lógico que sobraria para o garoto. Dito e feito. A casa de seu tio Tarcísio era o destino do garoto nessas férias.
Depois de relutar, fazer greve de fome e ficar desidratado de tanto chorar, Gerson vê que não tem opção e acaba se rendendo a vontade de seus pais.
O casal larga o moleque na casa do titio e parte para o aeroporto. O semblante do garoto é deplorável, mas “Tio Tarcísio” tinha uma carta na manga para transformar as férias do garoto em algo totalmente novo.
Todo sábado era sagrado, Tarcísio sai de casa de manhã e volta só no final da tarde. O local era sempre o mesmo: o clube da cidade. Jogar futebol de mesa era seu hobbie e aquele homem queria que o filho de sua irmã mais nova também se rendesse ao charme daquele esporte secular.
O garoto chega ao clube desconfiado, afinal, não conhecia ninguém. Seu tio passou pelas quadras poliesportivas e o garoto já babava, sedento por esportes, mas Tarcísio passou reto e entrou em outro lugar: Uma sala enorme, com várias mesas em forma de campo de futebol, umas travinhas e um monte de gente com uma flanela na mão e uns botões de acrílico em cima da mesa.
Mesmo com apenas 14 primaveras nas costas, Gerson já sabia o que aquilo significava. Como seu planejamento de férias já tinha ido para a lixeira, o menino solta o corpo e o gingado e se dispõe a aprender um pouco mais sobre o esporte.
Seu tio não era nenhum “Pelé das mesas”, mas até que fazia seus golzinhos e ganhava umas partidas. Naquele dia estava treinando firme para o torneio de domingo. Ao terminar o treinamento, Tarcísio guarda seu time na caixa, sua flanela na mochila e pega uma bolinha.
Nesse momento, o garoto indaga ao tio porque de guardar uma bolinha. O tio, meio sem graça, revela:
- Estamos passando por momentos difíceis, Gerson. Além de pagar taxas absurdas para disputar os torneios, ainda temos que levar uma bolinha para poder jogar, a Federação não fornece esse tipo de material.
Gerson fica confuso, aquilo tudo não fazia sentido, parecia coisa de outro mundo.
- Quanto custa uma bolinha dessa? Será que é cara? Mas é tão pequena... Indagava o garoto com seus neurônios.
Chega o dia do torneio e Tarcísio suava frio, suas mãos eram constantemente secadas na camiseta do clube que defendia. Gerson ficou do lado de fora, na arquibancada.
No desenrolar do campeonato, o tio do garoto surpreende e passa para as finais. Tarcísio enfrentaria o melhor jogador do torneio e estava muito concentrado.
Quando o jogo é anunciado, Gerson foi o único a aplaudir o tio, o resto da arquibancada – meio vazia é verdade – assovia e grita o nome do adversário.
Os dois apresentam seus times na mesa e Tarcísio é o mandante do jogo, segundo a tabela. Momentos antes de começar do jogo, o tio do garoto não parava de procurar nos bolsos a bolinha que tinha utilizado durante todo o campeonato.
- Com certeza alguém pegou por engano, dizia.
Como era seu dever possuir uma bolinha para disputar o campeonato, Tarcísio foi eliminado do torneio nas semifinais.
Entre lamentações e explicações tardias, lá estava Gerson, olhando tudo aquilo abismado.
Sem falar uma palavra, o garoto sai do ginásio antes do campeonato acabar e vai jogar fliperama. O futebol de mesa acabara de perder mais um futuro jogador.
Renê escreve no blog do Fundação toda semana (será?). Preparou essa história hoje, depois de ver uma notícia bizarra sobre o esporte.